“Com que suave doçura me levantas do leito em que sonhava profundas plantações perfumadas, passeias os dedos pela pele e me desenhas no espaço, desequilibrado, até que o beijo pouse curvo e recorrente para que a fogo lento comece a dança cadenciada da fogueira se tecendo em rajadas, em hélices, ir e vir de um furação de fumaça.. Porque, depois, o que resta de mim é só um inundarme entre as cinzas sem um adeus, sem nada mais que o gesto para libertar as mãos?” Julio Cortazar

Eu fecho os olhos e posso voltar naquela manhã de domingo, parada e olhando o lado de fora da janela estranha, sentindo os primeiros raios do sol nascente, com o cigarro na mão e seus olhos na mente. Eu sempre acabo me amarrando a coisas e pessoas desnecessárias, acabo sempre gostando, amando e querendo em uma medida incontrolável e masoquista. Acho que ser de verdade não é mais cool, temos que ser todos de plástico, falar as palavras certas, andar com as pessoas certas, usar as roupas certas, ir aos lugares certos, mas nunca ser você mesmo. Por isso, nessa janela, parada, eu penso em você. Você é a maior verdade que eu já conheci. Sei suas qualidades e defeitos, sei tudo de ruim que você pode ser e mesmo assim, te quero cada vez mais. Talvez seja porque posso ler em teus olhos, todas as verdades do mundo. Queria poder reconhecer em outro alguém esse seu olhar sincero. Queria poder seguir adiante sem a tua foto na carteira, sem teu nome na minha pele, seu teu suspiro na minha nuca. Minhas atitudes não são calculadas, meus erros e acertos são por puro acaso porque descobri que, não importa o que eu faça, você não estará aqui. Dói ter essa certeza. Dói lembrar-me do teu adeus rápido, dos meus olhos cheios de lágrimas e do meu coração ardendo. Eu nunca serei imune a um abraço seu. Todos os sorrisos do mundo juntos não são nada comparados a um sorriso teu. Penso que talvez tudo isso já estava escrito. E desejo, do fundo do meu ser, novo, cansado, limpo e substituível, desejo que o nosso reencontro também esteja escrito, nem que seja em uma folha rasgada, dentro de uma caixa velha, em um ano qualquer. Eu preciso que essa folha exista, preciso tê-la em minhas mãos pequenas, preciso sentir seu cheio, observá-la, até ter certeza, que você voltará um dia. Enquanto isso vou substituindo o meu amor por um carinho, os teus braços por outros braços quentes, o teu sorriso por outro sorriso, mas teu cheiro ainda vive em mim, no fundo dos poros, no miúdo do corpo, no raiar do sol. Eu sou louca, intensa, irônica, mas você é único. Queria algum dia passar pela tua mente, ser o motivo da tua saudade, ser a razão de um sorriso teu, outra vez. Outro dia, jurei que ouvi tua voz me chamando, me deixou perplexa pensar que tua voz podia atravessar toda a distância - real, psíquica e ilusória - até chegar aos meus ouvidos. Sabe o que me machuca mais? Querer amar um outro alguém. De verdade, sempre que acabo quase me entregando em outros braços você renasce na minha existência, no meu corpo, na minha alma, me fazendo esquecer o desejo, a vontade e a maldita hora que eu estaria livre de você.. Doce veneno esse seu, que me fez projetar em você essa pessoa espetacular, esse ser verdadeiro, esse rosto angelical.. não sei até que ponto você é "você mesmo" ou esse "você meu" que criei para me completar, queria poder responder. Beijos calados molhados passados me lembram você. Sorrisos alegres sinceros me lembram você. A dor, as lágrimas e o choro são por você.